Certificação HIMSS e a elite digital dos hospitais

Certificação HIMSS e a elite digital dos hospitais

Fundada na década de 1960, em Chicago (EUA), a Health Information and Management Systems Society (HIMSS) Analytics é uma das associações internacionais de maior prestígio mundial no setor de saúde. Um de seus grandes objetivos é incentivar a adoção do uso da Tecnologia da Informação nos hospitais em todos os processos, em especial aqueles ligados diretamente à assistência.

Fundada na década de 1960, em Chicago (EUA), a Health Information and Management Systems Society (HIMSS) Analytics é uma das associações internacionais de maior prestígio mundial no setor de saúde. Um de seus grandes objetivos é incentivar a adoção do uso da Tecnologia da Informação nos hospitais em todos os processos, em especial aqueles ligados diretamente à assistência.

A certificação HIMSS Analytics é uma das mais difíceis de serem obtidas e possui oito níveis, em uma escala de 0 a 7, sendo que a instituição apenas pode realizar a divulgação deles – conhecidos como Electronic Medical Record Adoption Model (EMRAM) –, a partir do nível 6. E, para chegar ao último patamar, o nível 7, é preciso ser um hospital totalmente digital, ou seja, sem papel (paperless).  Até o nível 5, o procedimento pode ser feito on-line por meio de questionário, mas a partir do sexto, o hospital passa a receber visitas de auditores. “O Objetivo é trazer segurança para o paciente, o médico e a instituição”, explica Valmir Júnior, Diretor Comercial de Produto da MV.

Atualmente, os hospitais brasileiros têm buscado participar dessa elite digital mundial. Na América Latina há 10 que alcançaram o nível seis, sendo oito deles brasileiros. No nível 7 só há no Brasil três hospitais que chegaram neste nível: Unimed Recife III (PE), que foi o pioneiro em dezembro de 2016, Unimed Volta Redonda (RJ), em dezembro de 2017, e o Hospital Márcio Cunha, de Ipatinga (MG), que também obteve a conquista no final do ano passado.

Para conseguir implementar as mudanças, muitas vezes é preciso rever processos e a investir em formação de uma nova cultura entre os colaboradores. Para chegar no EMRAM nível 6, o prontuário deve ser uma ferramenta completa, capaz de apoiar o médico em diferentes esferas de decisão.  Também é necessário um circuito fechado de medicamentos e um sistema de suporte à decisão clínica, bem como acompanhamento e registro de todo esse processo.

Já para conquistar o EMRAM nível 7, as exigências são muito mais específicas. O circuito fechado de medicamentos, por exemplo, fica ainda mais complexo. A instituição precisa ter uma política de recuperação de desastres, possuir um data center alojado em diferentes lugares, não utilizar papel em nenhuma esfera assistencial, ter um eficiente sistema de apoio à decisão clínica, além de integrar praticamente todos os sistemas do hospital.

EMRAM Nível 6, a conquista do Cárdio Pulmonar

A conquista dos níveis superiores do HIMSS revela um grau de maior maturidade de uma instituição. Para chegar ao nível 6, o Hospital Cárdio Pulmonar, que já utilizava prontuário eletrônico e possuía integração entre algumas das áreas do hospital, precisou ir além.  Realizou, por meio de consultoria especializada da FOLKS, um diagnóstico preciso. Depois, em conjunto com a Pixeon, implementou uma série de módulos de sistemas para estruturar a documentação em formato digital. “Neste processo de criação, investigação e desenvolvimento trabalhamos com antecipação. Usamos diversas pesquisas de campo para ver as oportunidades com a própria ajuda dos profissionais da instituição”, explica André Silveira, diretor de Tecnologia e Serviços da Pixeon.

Umas das melhorias que foram implementadas foi a inclusão do circuito fechado de medicamentos, com a checagem beira-leito. Isso requer que, desde a prescrição até a dispensa na farmácia e aplicação, todo o processo seja completamente informatizado. “Com a implementação da checagem beira-leito, a comunicação entre os profissionais fica mais eficiente e segura. Quando um médico solicita um medicamento à farmácia, ele é dispensado e se, por algum motivo precisar alterar o remédio no sistema, não mais terá que avisar o enfermeiro via voz: a mudança se refletirá automaticamente na checagem beira-leito”, explica Geovani Santangelo, gerente de Tecnologia da Informação e Comunicação do Hospital Cárdio Pulmonar.

Outro passo importante foi a otimização do prontuário eletrônico do paciente (PEP), que conta com ferramenta de decisão clínica integrada. Neste caso, inclusive os protocolos clínicos gerenciados, que até então estavam em PDF, ficam acessíveis e podem ser sugeridos pelo próprio sistema.  “O protocolo clínico gerenciado coloca o paciente em uma trilha do tratamento, e isso significa que os exames solicitados, os medicamentos prescritos e os cuidados que serão dados para este paciente seguem um padrão. Asseguramos que exista uma uniformidade no tratamento dos pacientes”, conta Márcio Alírio Silveira, diretor administrativo do Hospital Cárdio Pulmonar. Outra adaptação visando o HIMSS foi a realização de uma integração mais fluida entre o sistema de prontuário eletrônico e o de arquivamento de imagens médicas.

Neste ano, o hospital que está com 52 leitos, abrirá uma nova unidade que deve elevar esse número para 232. O objetivo é conquistar o HIMSS nível 7 a partir de 2019.

Os passos da Unimed Recife III

O Hospital Unimed Recife III começou já na frente nesta conquista, pois nasceu com o conceito paperless.  Na instituição pernambucana, inaugurada em 2011, e que trabalha com o software da MV, o nível 6 foi alcançado em 2014 e, depois disso, foram dois anos de trabalhos de automação e ajustes de processos até chegar ao sonhado nível 7.

Nessa jornada, investiu-se R$ 1,3 milhão no projeto. Na farmácia clínica, houve o aprimoramento do circuito fechado com 95% das medicações administradas à beira-leito com dupla checagem, integração da farmácia clínica à equipe multidisciplinar e a dispensação de medicamentos a partir da separação e identificação por nome do paciente, número do leito e horário da administração. Toda essa sistematização levou à economia de R$ 820 mil, segundo dados da MV.

Houve, também, a inserção de novos protocolos clínico-assistenciais e alertas automáticos, que servem para ajudar as equipes médicas, no ato da prescrição, indicando possíveis interações medicamentosas, manifestações alérgicas, influências de drogas em exames, entre outros.

Um ponto crucial foi a integração máxima de todos os departamentos e a estruturação de dados a serem usados em Business Intelligence (BI), bem como o processo de auditoria clínica para acompanhamento de toda a linha de cuidado do paciente.  O índice de desospitalização aumentou e houve, segundo divulgado pela MV, diminuição de R$ 4,2 milhões nos custos da instituição.

Os detalhes fazem toda a diferença nesse caminho. “Os auditores da HIMSS são médicos e acompanham todos os processos. Temos um exemplo muito elogiado por eles. Colocamos um farmacêutico, profissional que conhece melhor as interações medicamentosas, sempre disponível na farmácia clínica, deixamos uma equipe de plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eles são conhecedores profundos das interações medicamentosas, tanto com alimentos como com outros remédios e podem ser muito importantes para uma conversa com o médico. Por outro lado, a população idosa está crescendo cada vez mais e começa a procurar os hospitais, já tomando, por vezes, uma série de remédios. Essas informações serão avaliadas pela Farmácia Clínica, e isso já representa bastante ganho em qualidade de assistência”, explica Fernando Cruz, diretor médico do Hospital Unimed Recife III.

Quem já conquistou EMRAM nível 7 continua a ter trabalho pela frente. “Você tem que aprimorar esse processo, aperfeiçoando sucessivamente as rotinas, começar a investir em controle e aumento do número de protocolos e informação, tudo o que possa melhorar a assistência e o desempenho operacional”, finaliza Valmir Júnior, da MV.

HIMSS@Hospitalar 2018

Em um dos eventos mais importante do Brasil em eHealth, a HIMSS@Hospitalar – International Digital Healthcare Forum [2] abordará as principais questões da transformação digital na área da saúde em 8 verticais temáticas. São mais de 60 conferências com a participação de 35 painelistas internacionais.

Entre os temas abordados, dois deles apresentarão as soluções digitais e as inovações que surgem para o dia a dia dos hospitais, integração dos sistemas de cuidado e gestão e os desafios da interoperabilidade. São elas:

- Innovation Solutions for Hospital Chain 

Sala: 1

Dia: 22/05

Horário: 9h20 - 10h

- eHealth Interoperability Challenges

 Sala: 2

Dia: 23/05

Horário: 9h20 - 10h

Leia também:

Sistemas de gestão: o hospital funciona sem eles? [3]

As teias da interoperabilidade [4]