As teias da interoperabilidade

Padronização e colaboração são conceitos que nem sempre caminharam juntos ao longo da História da saúde, mas prometem se tornar inseparáveis com a transformação tecnológica. Isso porque ambas são essenciais para que a interoperabilidade, uma das promessas para o futuro da saúde, atenda não apenas os maiores players do setor, mas revolucione a percepção que se tem sobre a prática assistencial.

Padronização e colaboração são conceitos que nem sempre caminharam juntos ao longo da História da saúde, mas prometem se tornar inseparáveis com a transformação tecnológica. Isso porque ambas são essenciais para que a interoperabilidade, uma das promessas para o futuro da saúde, atenda não apenas os maiores players do setor, mas revolucione a percepção que se tem sobre a prática assistencial.

E não é para menos. Quando se fala em inteligência artificial, apoio à decisão clínica, telemedicina, indicadores assistenciais robustos para viabilizar modelos de remuneração fundamentados em valor, medicina baseada em evidência, acesso global ao prontuário eletrônico do paciente, entre tantos outros temas destacados em tecnologia para a saúde, tudo ganha ainda mais valor ao passar pela interoperabilidade.

É a chamada interoperabilidade que unifica os sistemas, permitindo a troca universal de dados padronizados entre todos os elos de uma cadeia de informações. “O potencial que a interoperabilidade tem para a saúde é o mesmo que a penicilina trouxe, no seu tempo, para a expectativa de vida humana quando ela foi descoberta”, diz o CEO da Pixeon, Roberto Ribeiro da Cruz.

O sucesso dessa empreitada rumo ao futuro da saúde pede a adoção de um modelo integrado, capaz de conciliar as diferentes linguagens dos sistemas.  Mais do que um desafio técnico, é preciso alinhar interesses individuais em prol de um modelo colaborativo, aberto e seguro quanto à confiabilidade e à confidencialidade de dados sensíveis. É uma proposta que vem para mexer nas bases da gestão hospitalar e na maneira como se enxerga a própria medicina.  

O futuro depende do diálogo

Os sistemas de saúde, apesar de já terem evoluído muito nos últimos 10 anos, ainda não obedecem a uma padronização. Acontece que, historicamente, instituições e desenvolvedores, criaram soluções de forma independente, com uma estrutura própria, o que complica a intercomunicação e o compartilhamento de dados. “Hoje, um hospital grande pode até comprar os melhores sistemas de prontuário eletrônico, de radiologia e de laboratório, mas fazer com que esses sistemas conversem pode ser um problema”, explica o executivo da Pixeon.

Embora ainda não seja uma realidade nacional, algumas empresas especializadas em softwares de gestão em saúde já trabalham com soluções integradas. Elas criam para grandes instituições sistemas que conectam não apenas setores de um mesmo hospital, mas vários hospitais dentro de uma mesma rede, ainda que estejam em diferentes estados do Brasil. “Hoje, você já consegue ter essa interoperabilidade em redes dos hospitais privados. Temos clientes com unidades em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Há esta base única com hospitais que fazem parte da mesma rede”, explica Valmir Junior, diretor comercial de produto da MV.

Nesta situação, imagine o exemplo de uma pessoa que mora em Recife, tem alguma doença crônica e faz seu acompanhamento em um hospital. Ela terá no seu histórico informações sobre dosagem de medicamentos, possíveis alergias, especificidades de seu quadro clínico, entre outras informações. Caso ela resolva viajar a passeio para São Paulo e, eventualmente, sinta-se mal ou sofra um acidente, ao comparecer a uma unidade daquela mesma rede, ainda que em outro município, o médico prontamente acessará essas informações, aumentando as ferramentas de decisão clínica ao seu dispor. “Com a interoperabilidade, independente da instituição, você consegue compartilhar a história clínica do paciente. Teremos um tratamento mais preciso, o que significa menos tempo de hospitalização na instituição. E isso vai ter, consequentemente, efeito na remuneração e na redução do custo do tratamento”, explica Valmir Junior.

De fato, já não há barreiras tecnológicas que impeçam a intercomunicação de todo o sistema de saúde, independente do porte, incluindo instituições públicas e privadas, clínicas, indústria e operadoras de saúde. Contudo, há muitas questões relativas a políticas, mercado e mesmo diálogo entre os elos da cadeia produtiva, que ainda precisam ser discutidas e endereçadas. “A tendência agora é que as instituições passem a fazer a interoperabilidade, independente da solução utilizada. O problema é você conectar todos os provedores de sistema de gestão hospitalar que tem o prontuário eletrônico e convencê-los a compartilhar as informações clínicas, encontrando um padrão de mercado”, conta o diretor da MV.

Um importante passo está sendo dado pelo Ministério da Saúde, que tem como meta integrar todas as unidades básicas de saúde brasileiras até o final de 2018. “É um começo, mas integração geral é de médio a longo prazo, porque há outros interesses. É necessário um registro eletrônico de saúde e que haja um repositório na nuvem onde possam ser acessados todos os episódios clínicos que ocorram, sejam nas unidades públicas ou privadas”, completa Valmir.  

Segundo Roberto Ribeiro da Cruz, está faltando diálogo no setor. “Com algumas empresas criamos uma comissão para validar os protocolos e sugerir ao mercado. A indústria precisa adotar um protocolo. Na verdade, a cadeia como um todo, mas a indústria precisa ser mais ativa para criar isso.  Caso contrário, os próprios fornecedores acabarão criando uma reserva de mercado”, diz.  

A discussão sobre temas como a interoperabilidade acontece no fórum HIMSS@Hospitalar 2018 [2], sob o tema eHealth.18 - Centralize data & Decentralize care, com o objetivo de apresentar e multiplicar experiências positivas, ideias inovadoras e tendências de mercado que estão fazendo a diferença para os Sistemas de Saúde ao redor do mundo. Acesse a programação e confira! [3]

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