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Setembro tenso: mais de 1 bilhão de alunos voltam as aulas

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Um mês coberto de apostas arriscadas

Dentro da ‘ruína’ pandêmica que dizimou os calendários escolares, onde alguns países voltaram mais cedo e outros ainda aguardam o desenrolar epidêmico, é valido pensar que em setembro de 2020 boa parte do mundo ocidental voltará as aulas presenciais. Expectativas mostram um contingente global em torno de 1,2 bilhão de alunos nesse regresso, com outro bilhão de indivíduos gravitando ao redor deles (pais, professores, assistentes, funcionários escolares, etc.). Em outras palavras, nas duas primeiras semanas de setembro cerca de 25% da população do planeta vai acordar mais tensa com as possibilidades de risco que a ‘criançada’ vai enfrentar. Segundo a Unesco, até julho de 2020 perto 1,5 bilhão de alunos matriculados ainda estava sem aulas presenciais em mais de uma centena de países, com 63 milhões de professores em suas casas. Muitos países adotaram o ensino remoto (e-Learning) e continuarão adotando com ou sem aulas presenciais, mas nem todas as nações conseguem manter o aprendizado digital. Também segundo a Unesco, 90% dos países de alta renda usam as plataformas de aprendizado on-line, enquanto apenas 53% das nações de baixa e média renda conseguem fazê-lo. No hemisfério Norte, o ano letivo de outono começa normalmente em setembro, e na Europa, com o fim das férias de verão, é normal que a maioria dos países também retorne as aulas em setembro. No Brasil, alguns Estados, como São Paulo, já anunciaram o retorno escolar para o mesmo mês.

É sabido que as crianças são menos propensas a Covid-19, tendo cerca de metade da probabilidade de contaminação que os adultos, de acordo com estudo da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), publicado na Nature Medicine. Outra pesquisa, do CDC (EUA), realizada em junho de 2020, alcançou 149.760 pessoas com a Covid-19, constatando que crianças de 17 anos ou menos (22% da população dos EUA) representavam menos de 2% das infecções confirmadas no país. Uma metanálise com 18 estudos realizada pela University College London também relatou que menores de 18 anos tinham 56% menos probabilidade de pegar coronavírus do que um adulto. Embora houvessem ‘balizadores de risco’ diferentes em função da época e das regiões pesquisadas, em muitos estudos as avaliações científicas parecem promissoras. Todavia, as perguntas frontais continuam: quando uma criança é realmente infectada?... o quanto isso a afeta?... e como fica a cadeia de contágio?

Os estudos mostram que os efeitos da contaminação tendem a ser leves, sendo que apenas 1 em cada 5 indivíduos (entre 10 e 19 anos) apresenta algum sintoma clínico, como confirmado no estudo LSHTM. A revista Public Health também constatou que até 19 de maio, em 7 países, houve 44 mortes em milhares de crianças com menos de 19 anos (taxa inferior a 1 em 3 milhões). Se a mortandade é baixa e a morbidade é leve, como se comporta o contágio? A resposta mais honesta está expressa no artigo “Is it safe to send kids back to school?”, da MIT Technology Research (30 de junho): “não sabemos”. Os estudos surgem em todas as direções, o que mitiga a certeza de que voltar as escolas não seja arriscado. Pesquisadores da Universidade de Berlim, por exemplo, testaram 3.712 pacientes-covid-19 (127 deles com menos de 20 anos), concluindo que as crianças podem carregar a mesma carga viral dos adultos. Por outro lado, na França, por exemplo, foi constatado que um guri de 9 anos com Covid-19 não transmitiu o vírus a mais ninguém, mesmo em exposição com mais de 170 pessoas.

Há pouca unanimidade entre pais, lideranças docentes, o Estado e a iniciativa educacional privada. Na última semana de julho, a rede norte-americana CNBC perguntou a 20 médicos especialistas se eles mandariam seus filhos de volta à escola. Seis deles sentiram-se confiantes em mandar os filhos voltarem, oito disseram “esperar para ver” e seis estavam fortemente inclinados a continuar no aprendizado remoto. Esse é um retrato moderadamente igual em todos os países que estão prestes a enfrentar o ‘desafio de setembro’. No Brasil, o Dieese divulgou nota técnica em julho alertando para os riscos do retorno as atividades escolares presenciais enquanto o coronavírus segue fora de controle no país. Outro alerta, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostrou que a volta às aulas de forma presencial em Minas Gerais, por exemplo, poderia colocar em risco a vida de 1 milhão de pessoas no Estado, principalmente idosos e adultos com comorbidades que residem com as crianças.

"Os surtos nas escolas são inevitáveis", diz o Dr. Otto Helve, especialista em doenças infecciosas pediátricas no Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar. "Mas há boas notícias. Até agora, com algumas mudanças nas rotinas escolares, os benefícios parecem superar os riscos, pelo menos onde as taxas de infecção comunitária são baixas e as autoridades estão atentas para atuar”, completa ele. Obviamente, o caso finlandês não serviria de padrão para grande parte dos países, que não contam com suporte sanitário similar. Vários outros Estudos, reunidos no trabalho “The missing link? Children and Transmission of Sars-cov-2”, mostraram que, em geral, indivíduos com menos de 18 anos têm entre 33% a 50% da probabilidade dos adultos de contraírem o vírus, sendo o risco mais baixo para as crianças mais novas. Mas muitas questões persistem: As crianças vão brincar juntas nos recreios? Serão testadas periodicamente? Enfrentarão os deficientes transportes coletivos de alguns desses países? Poderão se aglomerar neles nos horários de pico de uso? Os avós poderão ter contato com elas? Etc.

Um grande trabalho financiado pelo National Institutes of Health nos EUA, lançado em maio, deverá ajudar. Serão testadas (swabs nasais) quase 2 mil famílias em 10 cidades a cada 2 semanas, objetivando descobrir qual o papel que as crianças desempenham na transmissão do coronavírus. Enquanto isso, as diretrizes do CDC dos EUA estão servido de referência para muitas cidades ao redor do mundo que retornarão em setembro, embora ainda exista muita resistência mesmo nos EUA baseada nos antecedentes históricos: durante a pandemia de influenza (‘gripe espanhola’) de 1918-1919, o país fechou as escolas por 4 semanas (em média), sendo que as cidades que implementaram o fechamento (cerca de 40) reduziram a morbidade e mortalidade viral de forma significativa. Na Alemanha as regras de reabertura variam entre os seus 16 Estados, sendo que muitos já voltaram e outros regressarão em setembro. Os alunos ficam na mesma sala para todas as sessões escolares, com intervalos monitorados e a proibição de brincadeiras de contato físico. Na França as escolas infantis, primárias e de ensino médio reabrirão em setembro (com exceção das regiões ao redor de Paris), garantindo no máximo 15 alunos por classe e o distanciamento físico. A Dinamarca foi o primeiro país da Europa a reabrir as escolas primárias em meados de abril, permitindo que as crianças mais novas retornassem (creches, jardins de infância e escolas primárias), com distanciamento de 2 metros, depois reduzido para 1,7 metro. A Itália, o primeiro país europeu a fechar escolas e universidades em 4 de março (dias antes do bloqueio nacional), também retorna em setembro. Na Espanha o retorno será escalonado, com frequência voluntária dependendo da situação de cada uma das suas 17 Regiões Autônomas, sendo o distanciamento físico de 1,5 metro. Assim, de um modo ou de outro, a rota da Europa mira o retorno escolar.

Mas, na maioria das nações existe uma unanimidade: num mundo em que a tecnologia transborda em todas as direções, onde Marte fica cada vez mais perto, onde 17 farmacêuticas desenvolvem vacinas com farta quantidade de hightech, onde a videoconferência virou ‘coisa do passado’ e a Internet pode ter ‘salvado’ a humanidade do isolamento radical... um único apetrecho, um único artefato que não custa mais do que um dólar e que pode ser fabricado em casa, ajudará as crianças a passar ao próximo nível: a máscara. Com zero de tecnologia, e ela ‘quem’ nos lidera. Do mais ilustre líder mundial até o mais infinitesimal ser humano localizado nos umbrais da Terra todos passaram a depositar a sua saudabilidade na ‘destecnologizada’ e simples máscara. Que ela nos proteja, e proteja 1 bilhão de criaturinhas que retornarão ao encantado mundo da escolaridade nas próximas semanas.

 

Guilherme S. Hummel
Coordenador Científico - HIMSS@Hospitalar Forum
EMI - Head Mentor

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