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Symptom Trackers – sintomas identificados antes de você senti-los

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Covid-19 acelera rastreamento de sintomas

A perspectiva de ficar gravemente doente de repente, sem um sintoma inicial claro, é um dos muitos aspectos assustadores do coronavirus. Um paciente pode simplesmente morrer da Covid-19 alguns dias após sua contaminação com a doença ‘aparecendo praticamente do nada’. Essa é a base conceitual dos aplicativos de symptom trackers: ajudar os usuários a procurar atendimento médico antes que seja tarde demais. Os sistemas de rastreamento de sintomas (symptom trackers, também conhecidos como symptom checkers) já representam perto de 16% das 150 maiores startups em digital health (fonte: CBInsights). A Covid-19 influenciou essa aceleração, claro, mas antes dela o monitoramento já estava maximizado quando as plataformas de inteligência artificial passaram a ‘tratar’ os dados coletados. Rastrear sintomas antes que eles se convertam em enfermidades (epidêmicas ou não) está no ‘dna’ da indústria de tecnologia médica. Um dos motivos é explícito: a maioria das pessoas não interage com os Sistemas de Saúde sem que a doença esteja clara e sintomática. Na realidade, só agimos e buscamos apoio clínico quando nossas suspeições sublimam a noção tênue e difusa que temos de bem-estar. Quando isso ocorre, saímos a procura de ajuda médica, podendo já ser demasiado tarde.  

Até pela Covid-19, mas mesmo antes dela, a ciência médica se associou aos algoritmos para criar e sofisticar as funcionalidades dos Symptom Trackers. Em agosto último, o Fitbit, um dos mais antigos rastreadores vestíveis de atividade física, apresentou os primeiros resultados de um estudo para verificar como seus wearables detectam os primeiros sinais de infecção por Covid-19. Com mais de 100 mil participantes inscritos nos EUA e Canadá, a Fitbit publicou seus resultados preliminares na medRxiv, mostrando que seus wearables foram capazes de detectar quase metade dos casos de Covid-19 um dia antes do participante relatar qualquer sintoma da doença. O algoritmo funcionou com 70% de especificidade (30% de falsos positivos). Ainda que sujeito a inúmeras interpretações, esses programas digitais de rastreamento epidemiológico serão uma das maiores conquistas da civilização neste século. As possibilidades de aferir sinais sintomáticos antes deles se tornarem morbidades será um dos eixos de maior atenção da ciência médica. Vírus e cepas novas exigirão modelos de prevenção inovadores. “Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne” (Einstein).

Os aplicativos de rastreamento epidêmico existentes hoje no mercado podem ser separados em (1) sistemas teóricos e de baixa operacionalidade, dos (2) criveis e de alta efetividade. Lançado em março/2020, o ZOE, por exemplo, desenvolvido pelo King's College London e pelo NHS, foi um sucesso capaz de produzir a maior comunidade de rastreamento da Covid-19 no mundo (mais de 4 milhões de usuários no Reino Unido). O governo britânico forneceu subsídios de 2 milhões de libras esterlinas para o ZOE Covid-19 Symptom Study”, uma pesquisa com os usuários do aplicativo, que relatam regularmente seus sintomas, bem como os resultados dos testes para detecção do coronavirus. O estudo é o maior projeto público de ciência dessa natureza no mundo, com dados anônimizados e resultados sendo analisados pelos pesquisadores do King's College. O ZOE é separado do aplicativo NHS Test-and-Trace, lançado em agosto/2020 para oferecer suporte ao rastreamento de contato físico, mas os dois se integram dentro dessa mega pesquisa, gerando uma sólida ferramenta de ‘rastreamento inteligente de saúde’. Os symptom checkers não são novidade. O “velhaco” Apple HealthKit, por exemplo, lançado em 2014, passou a ser uma ferramenta cada vez mais útil para médicos e cientistas de dados. Em sua Worldwide Developers Conference, realizada em junho/2020, a Apple anunciou 13 novos sintomas a serem adicionados no rastreamento de seu aplicativo, levando o total para 39, incluindo suores noturnos, mudanças de humor, incontinência urinária e náusea.

Os avanços realizados por desenvolvedores e médicos estão abrindo espaços para uma explosão de inovações na rastreabilidade de sintomas. O aplicativo MyIBD Care, por exemplo, está sendo usado por 35 mil pacientes que sofrem da Doença de Crohn e de colite ulcerosa. Desenvolvido em 2016 pelos gastroenterologistas Gareth Parkes (Barts Health NHS Trust) e Bu Hayee (King's College Hospital), ele permite avaliar em curto espaço de tempo as condições do paciente, não dependendo de uma consulta médica a cada três, seis ou doze meses. Durante o isolamento social da Covid, o MyIBD Care também foi usado para reduzir os níveis de ansiedade dos usuários. O Masimo SafetyNet é outro wearable de pulseira que contém um acessório descartável na ponta do dedo capaz de monitorar o pulso, a frequência respiratória e os níveis de oxigênio. Como ele, inúmeros outros chegam todos os dias ao mercado, embora poucos se equiparem ao que vem pela frente. Um dos dispositivos mais inovadores, voltado à pacientes da Covid-19, foi desenvolvido por pesquisadores da Northwestern University. Tem o tamanho de um selo postal, é macio, flexível, sem fio e fica instalado na depressão visível na base da garganta. Desse local o dispositivo monitora a intensidade e os padrões da tosse, movimentos da parede torácica (que indicam respiração difícil ou irregular), sons respiratórios, frequência cardíaca e temperatura corporal (incluindo febre). Transmite os dados para nuvem, onde algoritmos produzem reports que facilitam o monitoramento remoto. Um assombro tecnológico em termos de ‘detecção antecipada e inteligente de sintomas’.

Certamente que alguns médicos acharão um “escândalo” esse tipo aferição, mas serão cada vez mais aderentes à medida que a qualidade dos trackers avança. Da Índia, por exemplo, um país de sólida tradição médica conservadora, veio a startup (Madra) responsável pelo Muse Wearables, um rastreador de pulso que controla temperatura, batimento e SpO2, sendo hoje de grande relevância no apoio ao diagnóstico precoce dos sintomas da Covid-19 no país (empresa incubada pelo Indian Institute of Technology). A necessidade de cuidados a distância, centrados na aferição de sintomas, fez com que o assistente virtual Alexa (Amazon) já possa responder a quase todas as perguntas básicas sobre a pandemia, inclusive aconselhando sobre precauções relacionadas ao vírus. Não devemos esquecer a notória questão da privacidade, que vai acompanhar as ferramentas de rastreamento até o ‘juízo final’. Ocorre que essa pendenga pode estar sendo reduzida exatamente no vácuo da ascensão dos Symptom Trackers. Um rastreador digital de sintomas da Covid-19, desenvolvido por pesquisadores do Georgetown University Medical Center, garante a confidencialidade do indivíduo enquanto é capaz de monitorar ativamente seus sintomas. O estudo piloto “COVID-19 symptom tracker ensures privacy during isolation”, publicado em agosto/2020 no Journal of Medical Information Research (JMIR), mostra que a ferramenta da Georgetown possui um método de rastreamento eficiente para monitorar um grande número de indivíduos em quarentena, mantendo, claro, a sua privacidade. Ela atribui um identificador exclusivo conforme as pessoas inserem seus sintomas.

As formas misteriosas pelas quais a Covid-19 afeta o corpo parecem ficar cada vez mais complexas. Os sintomas de muitos pacientes podem desaparecer completamente e repentinamente antes deles começarem a se deteriorar (às vezes em questão de horas). Outros pacientes se recuperaram e testaram “negativo”, mas uma semana depois testam “positivo” novamente. Essas incógnitas ressaltam a necessidade de um monitoramento contínuo dos sintomas. Os rastreadores de condicionamento físico atuais, que brotam nas academias com recursos cada vez mais sofisticados, não foram projetados originalmente para levantar dados biométricos epidemiológicos. Mesmo assim, o estudo da West Virginia University, que combinou dados do tracker Oura Ring, mostrou que o aplicativo é capaz de prever os sintomas da Covid-19 três dias antes e com precisão superior a 90%. Pós pandemia, vamos assistir ao surgimento de aplicações e dispositivos imensamente mais sofisticados, capazes de identificar patologias com dias ou semanas de antecedência. Seremos capazes de monitorar os sintomas de um paciente de forma remota, automática e com filtro para multimorbidades, cruzando dados em machine learning para antecipar e separar sintomas naturais ou colaterais. A Covid-19 vai nos ensinar muitas coisas em sintomatologia. Muitas delas a um custo humano estarrecedor.

 

Guilherme S. Hummel

Coordenador Científico - HIMSS@Hospitalar Forum

EMI - Head Mentor

 

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