Segundo estudo inédito do IESS, gastos assistenciais chegarão a 396,4 bilhões em 2030, um avanço de 272,9% em relação a 2014
O total de internações de beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares deve saltar de 8,2 milhões, em 2014, para 10,7 milhões em 2030, de acordo com projeção inédita do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). O número representa um crescimento de 30,5% no período analisado.
Outro fator também impactante é que, por conta do envelhecimento do brasileiro, o total de internações para a faixa etária de 59 anos ou mais vai crescer 105% no período. Isso mensura o tamanho do desafio a que a saúde suplementar estará submetida nos próximos anos para dimensionar sua rede de atendimento. “Estamos passando por uma mudança no perfil de utilização e serviços de saúde que vai exigir o redimensionamento da rede atendimento e todo o modelo assistencial”, afirma o superintendente executivo do IESS, Luiz Augusto Carneiro.
O estudo avaliou dois cenários para medir o impacto do envelhecimento populacional no setor de saúde suplementar do País. No primeiro, foi avaliado o impacto isolado do envelhecimento, mantendo-se constantes, às taxas de 2014, a estrutura de gasto médio por faixa etária, a proporção de beneficiários de planos de saúde em cada faixa etária e os custos assistenciais. Nesse caso, em 2030, seriam 59,4 milhões de beneficiários de planos de saúde no Brasil e os gastos assistenciais das operadoras chegariam R$ 165,8 bilhões, um avanço de 55,9% em comparação a 2014, motivado exclusivamente pelo envelhecimento da população brasileira.
No segundo cenário, além do envelhecimento, o custo de consultas, exames, terapias, internações e outros procedimentos ambulatoriais (OSA) foram corrigidos de acordo com o Índice de Variação do Custo Médico-Hospitalar (VCMH/IESS). Para essa projeção, a elevação dos custos foi calculada com base na média do VCMH/IESS de 2007 a 2015, que foi de 6,9%, já descontando a inflação de 6% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse caso, o total de beneficiários seria o mesmo constatado no primeiro cenário e os gastos assistenciais chegariam a R$ 396,4 bilhões em 2030, um avanço de 272,9% em relação a 2014. Este foi o cenário utilizado como base para apontar a variação com cada item das despesas assistenciais. “A projeção, contudo, é conservadora e deve-se esperar que o crescimento real dos gastos ainda maior”, destaca Carneiro.
O estudo considera, portanto, como principal fator para a mudança na utilização do sistema de saúde a mudança demográfica da população. A alteração de demanda será sentida em todos os tipos de procedimentos."O rol de cobertura e procedimentos exigido das operadoras pela ANS é bastante rigoroso. O mesmo vale para a exigência de dimensionamento da rede de cobertura. Será preciso um esforço grande de investimentos para manter esse equilíbrio assistencial", analisa Carneiro. "Esses investimentos podem e devem ser induzidos pelas operadoras, governo e, principalmente, pelos prestadores de serviços de saúde no Brasil. Mas, também, desponta como um enorme polo de atratividade para novos interessados em investir nesse setor", adiciona.
Segundo os números do estudo, os beneficiários com idade entre 19 anos a 58 anos responderam por 60,9% das 8,2 milhões de internações registradas em 2014, ou 5 milhões de internações. No mesmo ano, os beneficiários com 59 anos ou mais responderam por 24,4% – 2 milhões – das internações. Até 2030, a frequência de utilização desse serviço pela faixa etária mais velha deve crescer 105%, chegando a um total de 4,1 milhões de internações. O que representaria 38,3% do total de internações previstas para aquele ano. Já o total de internações de beneficiários de 19 a 58 anos avançaria 14%, chegando a 5,7 milhões e representando 53,3% das 10,7 milhões de internações previstas para 2030. Os beneficiários com até 18 anos responderam por 14,6% das internações em 2014, o que equivale a 1,2 milhões de procedimentos. Em 2030, esse grupo etário deverá responder por 8,4% do total de internações, com 0,9 milhão de beneficiários internados. O que representa uma retração de 25%, em linha com a mudança demográfica esperada para o País.
Apesar de a alteração do perfil da população e dos beneficiários ser mais sentida na quantidade de internações, as mudanças também serão nítidas nos demais serviços de saúde. O total de consultas deve saltar de 296,3 milhões, em 2014, para 349,1 milhões em 2030, crescimento de 17,8%. Contudo, a utilização desse serviço pelos beneficiários com mais de 59 anos deve mais do que dobrar. O estudo do IESS aponta que esse grupo etário realizou 43,1 milhões de consultas em 2014 e deve realizar 86,6 milhões em 2030. Avanço de 100,9%. No mesmo período, para o mesmo grupo, o total de exames deve subir 101,9%. Saindo de 204 milhões para 411,8 milhões. Já o total de terapias irá aumentar de 25,6 milhões para 51,8 milhões. Incremento de 102,3%.
Em nenhum dos grupos de procedimentos analisados a utilização dos beneficiários com idade entre 19 e 58 anos deve crescer mais do que 14%. Já a utilização desses serviços por beneficiários com até 18 anos irá cair mais de 15% em todos os casos.
Despesas assistenciais
Segundo o estudo, que avalia o crescimento dos gastos com base no envelhecimento da população e na variação dos custos médico-hospitalares, em 2030, os planos de saúde devem dispender R$ 260,3 bilhões apenas em internações de seus beneficiários. O montante é 331,7% superior aos R$ 60,3 bilhões gastos em 2014. “As despesas com internações já respondem pela maior parte dos gastos assistenciais e devem ter sua participação aumentada para quase dois terços do total em 2030, o que evidencia a necessidade de trabalharmos políticas de promoção da saúde”, alerta Carneiro. “Focar em promoção da saúde é uma mudança necessária não só do ponto de vista da sustentabilidade do setor, mas principalmente para possibilitar que a população tenha mais qualidade de vida para aproveitar o incremento na longevidade que estamos presenciando, que se tornem, portanto, idosos saudáveis e ativos”, completa.
Os gastos que, proporcionalmente, mais devem crescer no período, contudo, são aqueles com terapias. Em 2014, as despesas assistenciais com terapias somaram R$ 5,5 bilhões. Em 2030, este valor deve atingir R$ 54,7 bilhões, alta de 894,5%. Com isso, os gastos com terapia ultrapassariam aqueles com consultas e exames, se tornando a segunda despesa dos gastos assistenciais.
No mesmo período, os gastos com consultas saltariam de R$ 11,5 bilhões para R$ 19,3 bilhões, um aumento de 67,8%. E os gastos com exames cresceriam 64,1%, de R$ 20,6 bilhões para R$ 33,8 bilhões.
O IESS destaca que as previsões, nos dois cenários apontados no estudo, são conservadoras, uma vez que não consideram nem a incorporação de novas tecnologias, nem o aumento da expectativa de vida da população e a maior exigência de cuidados de saúde que naturalmente surgiriam em decorrência desse incremento. Também não são projetados os efeitos da variação da frequência de utilização dos serviços e da taxa de cobertura ou do crescimento econômico, entre outras variáveis que influenciam os gastos com saúde. Por outro lado, igualmente não são projetadas alterações que possam reduzir os custos, como ganhos de escala ou eficiência.
De todo modo, o estudo desenha um cenário que, na visão do superintendente executivo, obriga a sociedade brasileira a buscar mecanismos de aprimoramento da cadeia da saúde como um todo. As propostas defendidas pelo instituto envolvem o estabelecimento e publicidade de índices de qualidade de prestadores de serviços, estímulo à concorrência ao combater falhas de mercado (sobretudo assimetrias de informações de fornecedores de insumos médicos), modernização de modelos de pagamento de prestadores de serviços (premiando a eficiência e o desfecho clínico e punindo o desperdício), e análise técnica e transparente para adoção de novas tecnologias em saúde análise. “O mercado precisa se modernizar de modo que a escalada de custos e a mudança na utilização dos serviços, também geradas pelo envelhecimento populacional, não se tornem um risco à sustentabilidade do setor”, alerta o superintendente.